sábado, 2 de setembro de 2023

Tempo de mudanças...

Há momentos na vida em que as mudanças simplesmente acontecem.

O blog Opinião Farmacêutica, que existe desde 2010, está  mudando de identidade visual, e se mudando para outra plataforma: o Wordpress. O Wordpress é reconhecido por ser uma plataforma mais flexível, e que permite muito mais personalizações do que o Blogger.

A mudança será gradual. Serão escolhidos os principais posts escritos durante esses anos, que serão revisados, atualizados e então postados na nova plataforma. E isso tudo junto aos novos artigos que serão escritos!

Num primeiro momento, os novos artigos que forem postados lá serão também postados aqui, praticamente de forma simultânea. 

Portanto, gostaria de agradecer a cada um de vocês, leitores, que acessaram este blog em algum momento nos últimos 13 anos! E também gostaria de convidá-los para conhecer o novo Opinião Farmacêutica:

opiniaofarmaceutica.wordpress.com


Muito obrigado a todos!

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Medir ou aferir a pressão? Qual o termo correto, afinal?

Os termos utilizados para o ato de utilizar um instrumento que mostrará qual a pressão sanguínea de um indivíduo são causa de muita discussão entre profissionais da saúde.


Eliminando-se os termos "tirar a pressão", que é totalmente incorreto, e "verificar a pressão", pouco utilizado, ficamos com os principais: "medir a pressão" e "aferir a pressão". Estariam os dois corretos, ou um é mais adequado que o outro? É essa resposta que me proponho a discutir nesse post.

Para começar, vamos usar as definições do dicionário Aurélio para cada um dos termos:

Aferir: 1. Conferir (pesos, medidas, etc.) com os respectivos padrões. 7. Avaliar, estimar, medir.

Medir: 1. Determinar ou verificar, tendo por base uma escala fixa, a extensão, medida ou grandeza de (algo).

Como podemos ver, medir é um dos sinônimos de aferir, o que tornaria ambos corretos gramaticalmente.

Porém, tecnicamente falando, o termo aferir é utilizado com o sentido de sua definição nº1: Conferir (pesos, medidas, etc.) com os respectivos padrões. Como exemplo, quando vamos aferir uma balança, pegamos um objeto (peso) com um valor conhecido (p. ex. 1kg), e vemos se a balança mostra exatamente 1kg. Caso ela não mostre esse valor, deverá ser calibrada. Isso é aferição. Compara-se o resultado de um instrumento com um padrão.

Já a palavra medir é utilizada quando se compara o objeto da medição com uma escala de valores, utilizando-se do auxílio de instrumentos. Como medir a temperatura, usando a escala Celsius ou Fahrenheit, através de um termômetro.

Aliás, os instrumentos utilizados para se fazer medições terminam em -metro, como o próprio termômetro, o velocímetro, o altímetro, o anemômetro, o pluviômetro, o barômetro e inclusive aquele utilizado para a medição da pressão sanguínea, o esfigmomanômetro.

Então, se você mede (e não afere) temperatura, velocidade, altitude, quantidade de chuva, pressão atmosférica, etc., então nada mais óbvio do que medir a pressão sanguínea também!

No entanto, a expressão "medir a pressão" foi ridicularizada em diversos cursos da área da saúde por professores que a ouviam de seus alunos e respondiam que "para medir a pressão, deve-se usar uma fita métrica". A causa da discórdia no uso dos termos deve ter surgido da ignorância desses profissionais quanto ao verdadeiro significado do uso dessas palavras.

Resumindo: embora pelo dicionário os dois termos estejam corretos, tecnicamente o uso do termo"medir a pressão" é mais adequado.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Eparema e Epocler servem para evitar ou curar a ressaca?



Quase todo mundo sabe que Eparema e Epocler servem "para o fígado", e muitos acham que são a mesma coisa. Mas não são iguais, e a escolha entre eles dependerá de qual o problema que a pessoa tem.


Mas eles servem para evitar ou curar a ressaca?


Para respondermos, primeiro vamos ver como funciona cada um desses medicamentos:


  • EPAREMA

Composto pelos extratos vegetais de Boldo, Cáscara Sagrada e Ruibarbo. Indicado para facilitar a digestão de alimentos gordurosos através da eliminação da bile.

Para entendermos melhor, primeiro vamos falar rapidamente sobre as funções da bile (também chamada de bílis): a bile é um fluido (líquido) produzido continuamente pelo fígado, e que vai sendo armazenado numa espécie de bolsa, chamada vesícula biliar (conhecida popularmente apenas como vesícula). Quando comemos, os alimentos vão tendo uma parte da sua digestão no estômago, e depois passam para o intestino. Quando chegam lá, a vesícula libera a bile que estava armazenada, para que ela possa "quebrar" a gordura presente no alimento, o que facilita a ação de uma enzima chamada lipase, que atua na absorção da gordura.


Após uma refeição rica em gordura, podemos ficar com uma sensação de digestão difícil, pesada. É aí que entra o Eparema. Ele tem ação colagoga (aumento da produção de bile) e colerética (aumento da saída de bile da vesícula). Portanto, facilita a digestão das gorduras. 

principal ação do Eparema deve-se ao extrato de Boldo.


  • EPOCLER
Composto por Colina (citrato de colina), betaína e metionina (racemetionina). Indicado no tratamento de distúrbios metabólicos hepáticos (= do fígado), entre eles a esteatose hepática

Essa doença caracteriza-se pelo acúmulo anormal de gordura dentro das células do fígado, condição que pode se agravar e levar a uma cirrose hepática. A esteatose é causada por diversos fatores, mas um dos mais comuns é a ingestão excessiva de álcool, aguda ou crônica.

Os aminoácidos presentes na fórmula do Epocler (colina e metionina), atuam na metabolização das gorduras acumuladas no interior dos hepatócitos, com o intuito de reverter o quadro da esteatose hepática. A metionina ainda tem importante função protetora do fígado contra os radicais livres por sua ação antioxidante acentuada e por ser precursora da glutationa, um dos principais antioxidantes deste órgão. A betaína completa a ação antioxidante hepática, pois juntamente com a metionina e a colina, acelera a remoção da gordura infiltrada no fígado.


Agora, respondendo à pergunta lá de cima, se eles servem para evitar ou curar a ressaca: NÃO!

Como pudemos ver, o Eparema não tem ação alguma sobre a absorção ou o metabolismo do álcool. Já o Epocler poderia ter algum efeito ao minimizar os efeitos oxidativos dos radicais livres. Porém, segundo o dr. Hoel Sette Jr., médico hepatologista e diretor clínico da Clínica Pró-Fígado, após ser perguntado se "Depois de beber, é bom tomar remédios hepatoprotetores como Epocler e Metiocolin?":

"Tais medicamentos, vendidos sem receita médica e compostos de sais minerais, aminoácidos e vitaminas, não têm qualquer efeito protetor sobre o fígado. Para quem não quer sofrer danos advindos do álcool, só existe um conselho: beber com moderação."


sábado, 7 de junho de 2014

Por que devemos tomar antibióticos na hora certa e pelo tempo certo?




Você já deve ter ouvido de um médico que um antibiótico deve ser tomado, por exemplo, a cada 8 horas por 7 dias. Infelizmente, muitas pessoas acham que, quando já estão melhores, mesmo que ainda faltem alguns dias para o término do tratamento, podem parar de tomar o medicamento. Mas por que isso é errado?

O assunto é um pouco complexo, mas tentarei explicar de uma forma bem simplificada:

Uma infecção bacteriana acontece após entrarmos em contato com bactérias patogênicas (isto é, que podem causar doenças. A grande maioria das bactérias existentes é inofensiva). Como exemplo, podemos citar a ingestão de um alimento contaminado por "uma" bactéria. Na verdade, não é 1 bactéria, mas centenas de milhares a milhões delas. Após a ingestão, nosso organismo não consegue dar conta de eliminá-las, e elas vão se multiplicando até chegar a um número suficiente para provocar os sintomas da infecção.

Quando esses sintomas aparecem, o médico pode achar necessária a administração de um antibiótico. Dependendo do seu tipo de ação, um antibiótico pode ser bactericida (mata as bactérias) ou bacteriostático (impede seu crescimento e multiplicação).

Para exercer seu efeito de matar ou impedir o crescimento das bactérias, o antibiótico deve atingir e manter uma certa concentração no sangue por um período de tempo suficiente. Explico: após tomarmos um comprimido de antibiótico, este será absorvido através do intestino e cairá na corrente sanguínea, a partir de onde será distribuído pelo organismo. A dose deste antibiótico foi estudada para que ela atinja a concentração correta no sangue. Vamos tomar como exemplo um dos antibióticos mais usados, a Amoxicilina 500mg. Uma boa parte desses 500mg chegará ao sangue e atingirá a concentração ideal. Aos poucos, essa amoxicilina vai sendo eliminada pelo organismo, até baixar para uma concentração insuficiente para continuar matando as bactérias. Esse tempo é de aproximadamente 8 horas. Esse é o motivo pelo qual ela deve ser tomada de 8 em 8 horas.

Observe o seguinte gráfico:


























Nele, podemos observar a concentração de amoxicilina por tempo (linha vermelha) e a concentração mínima na qual ele é eficaz para matar as bactérias, chamada de Concentração Inibitória Mínima, ou C.I.M. (linha azul). Vemos que após a administração, a concentração sanguínea sobe rapidamente, e começa a cair, primeiro de maneira mais rápida, depois mais lenta. Depois de 8 horas, essa concentração passa a ficar abaixo da C.I.M., o que significa que a partir desse ponto o antibiótico deixa de ser eficaz, e as bactérias voltam a se multiplicar. Se for tomado com intervalo menor, haverá um excesso do medicamento no organismo, podendo levar ao aparecimento de efeitos tóxicos. Essa é a importância de se tomar os antibióticos no horário correto.

E por que devem ser tomados pelo número de dias correto?

Veja as seguintes figuras:



Podemos observar bactérias sensíveis (em azul), isto é, que morrem com o antibiótico, e bactérias resistentes (em vermelho), que não morrem com ele.

Na figura A, vemos uma infecção onde existem muito mais bactérias sensíveis do que resistentes. Tomando-se o antibiótico corretamente, restariam apenas umas poucas bactérias resistentes, as quais seriam facilmente eliminadas pelo próprio sistema imunológico do organismo.

Na figura B, podemos notar que, após o tratamento por um tempo mais curto do que o necessário, sobraram as bactérias resistentes e também algumas sensíveis. O problema é que essas bactérias resistentes conseguem transferir a parte do material genético que elas possuem e que confere resistência ao antibiótico para as bactérias sensíveis, que então tornam-se resistentes. Veja:





Na parte de cima da figura, à esquerda, vemos uma bactéria resistente, que possui um plasmídeo (anel duplo vermelho), que é o material genético que confere resistência ao antibiótico. À direita, uma bactéria sensível.

No meio, a bactéria resistente transfere uma cópia do seu plasmídeo à bactéria sensível, num processo chamado transferência de plasmídeo. Por fim, como mostra a parte de baixo da figura, estas duas bactérias estão resistentes ao antibiótico.

Agora, imagine isso em uma escala de centena de milhares a milhões de bactérias. Isso não afeta somente a quem tomou o antibiótico de maneira errada. Afeta também a todos os que forem infectados com as bactérias deste indivíduo, pois receberão bactérias resistentes, e o antibiótico não fará mais efeito.

E, infelizmente, isso já acontece. Muitos antibióticos estão deixando de fazer efeito graças ao uso inadequado. Daí o surgimento das chamadas superbactérias, que são resistentes a diversos antibióticos.

Então lembrem-se: sempre que tiverem que tomar antibióticos, respeitem os horários (mesmo que tenham que acordar de madrugada) e tempo de tratamento, pois isso poderá ser a diferença entre acabar com uma doença ou criar uma superbactéria!

Espero ter ajudado! Porém, como eu já disse, trata-se de um assunto complexo e muito técnico, e é muito difícil resumi-lo numa linguagem mais simples. Caso tenham dúvidas, por favor, perguntem nos comentários, que tentarei respondê-las assim que possível!

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Por quê o Soro Fisiológico tem este nome?

Se você nunca usou soro fisiológico (ou solução fisiológica) na sua vida, muito provavelmente já ouviu falar nele. De utilização extremamente comum, pode ser usado para limpeza de feridas, curativos, lentes de contato, dentre outros usos.




Mas por quê ele recebe este nome?

De acordo com a definição da Wikipédia, a palavra Fisiologia "(do grego physis = natureza, função ou funcionamento; e logos = palavra ou estudo) é o ramo da biologia que estuda as múltiplas funções mecânicasfísicas e bioquímicas nos seres vivos. De uma forma mais sintética, a fisiologia estuda o funcionamento do organismo."

Fisiológico, então, é o que refere-se à fisiologia. Então o que aquele famoso soro tem a ver com a fisiologia?

Nosso corpo é formado por aproximadamente 65-75% de água. Esta água está distribuída por todo o organismo, fazendo parte do líquido presente dentro e fora das células, do sangue, da saliva, da lágrima, entre outros. Ela não é pura: existem muitas substâncias dissolvidas nela. Uma delas, das mais importantes, é o cloreto de sódio.

Sim, o cloreto de sódio é exatamente aquele "pozinho" branco que geralmente encontramos num frasco sobre quase todas as mesas de restaurantes e lanchonetes: o sal.

Nos líquidos de nosso organismo, na maioria dos tecidos, a concentração de cloreto de sódio é de 0,9%, ou seja, 0,9g a cada 100mL Portanto, essa é a concentração para o funcionamento do corpo, portanto é a concentração fisiológica.

A composição do soro fisiológico é apenas cloreto de sódio em água, em concentração de 0,9%. Ou seja, uma concentração fisiológica. Daí o nome Soro Fisiológico!

Por esse motivo o soro tem o "sabor" parecido com o da lágrima, já que ambos têm a mesma concentração de sal. E é também por isso que ele pode ser utilizado no olho, em lentes de contato, feridas, medicamentos injetáveis...

Mas fiquem tranquilos: apesar de o cloreto de sódio ser o mesmo do sal de cozinha, o que é utilizado no soro fisiológico é de pureza de grau farmacêutico. Isto significa que é muito mais puro do que o sal comum.

E por que não usamos simplesmente água pura (destilada ou deionizada) no lugar do soro?

Porque essa água tenderia a entrar nos tecidos corporais, para diluir a concentração de sal nesses locais, processo conhecido como osmose. Isso provocaria um edema (inchaço) nesses tecidos, além de outros problemas potencialmente mais graves.




sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Diclofenaco sódico deve ser evitado por hipertensos? E o potássico?

No meu post sobre as diferenças entre os tipos de diclofenaco, pude notar, nos comentários, que existe mais um mito a respeito deste medicamento: de que o diclofenaco sódico não deve ser usado por hipertensos, devendo ser utilizado o diclofenaco potássico nestes casos.

Peço desculpas aos leigos, mas para chegar à minha conclusão, preciso apresentar alguns argumentos técnicos. Porém, farei o máximo para simplificá-los.

A massa molecular do diclofenaco sódico é aproximadamente 318. A massa atômica do sódio é 23. Então, a massa somente do sódio equivale a 7,23% da massa do diclofenaco sódico.

Um comprimido de diclofenaco sódico comum contém 50 mg desta substância. 7,23% destes 50 mg são 3,6 mg. Podemos concluir que a quantidade de sódio proveniente do diclofenaco, por comprimido, é de 3,6 mg.

A posologia usual é de 1 comprimido a cada 8 horas, o que dá 3 comprimidos por dia. Temos então 10,8 mg de sódio diários provenientes do diclofenaco dos 3 comprimidos.

A quantidade de sódio recomendada por dia deve ser de no máximo 2.300 mg, de preferência ficando abaixo de 2.000 mg. Para portadores de hipertensão (pressão alta), essa quantidade deve baixar para no máximo 1.500 mg por dia. Isso nos mostra que os 10,8 mg provenientes do diclofenaco são praticamente irrelevantes com relação ao total diário.

Então um paciente hipertenso pode tomar tranquilamente o diclofenaco sódico??? NÃO!!!

E por que não?

Porque a maioria dos anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs), incluídos aí os diclofenacos sódico e potássico, podem elevar a pressão arterial. Esta elevação pode ser ainda maior em pacientes hipertensos.

Conclusão: pacientes hipertensos não devem usar diclofenaco sódico nem potássico sem orientação médica, pois ambos podem provocar um aumento da pressão arterial, não pelo conteúdo de sódio, mas pela própria ação (farmacodinâmica) do diclofenaco.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Qual a diferença entre Diarreia e Disenteria (ou seria Desinteria)?

Essa é uma dúvida bastante frequente, mas não tão difícil de ser respondida.

A Diarreia é o aumento do número de evacuações, normalmente (mas não sempre) acompanhadas por fezes amolecidas (pastosas ou líquidas).

Pode ser causada por diversos fatores, como infecções por vírus, bactérias ou parasitas; medicamentos, alergias, ou ainda doenças inflamatórias intestinais.

O principal problema causado pela diarreia é a desidratação, que pode levar à morte principalmente crianças e idosos.

Já a Disenteria é uma doença inflamatória intestinal que provoca diarreia, mas sempre acompanhada por muco e sangue.

É também causada por infecções virais, bacterianas, protozoárias ou parasíticas.

Pessoas com disenteria em geral apresentam febre, tosse, cólicas intestinais e diminuição do apetite, podendo levar rapidamente à perda de peso e até à desnutrição.

E qual o correto? Disenteria ou Desinteria?

Por se tratar de uma doença (disfunção) do intestino (entérica), ou seja, disfunção entérica, o correto é Disenteria.

Então, resumindo:

Se você tiver uma diarreia, mas estiver saindo sangue e muco, é na verdade uma disenteria.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Por que os médicos sempre dizem que é uma Virose?

É muito comum a reclamação, por parte dos pacientes, quando estes procuram o médico e recebem como diagnóstico: "Isto é uma virose!". Por que os médicos sempre respondem isto?

Tecnicamente falando, virose é qualquer doença causada por vírus. Podemos então dizer que gripe, resfriado e até mesmo a AIDS são viroses.

Mas as reclamações surgem quando o diagnóstico é recebido diante de um quadro que apresenta, geralmente: diarreia, vômitos, indisposição, dores no corpo, e até mesmo febre. O médico diz que é preciso ingerir bastante líquidos, e prescreve um simples analgésico para as dores e a febre. "Ele disse que eu tenho uma virose, só passou um remedinho pra dor e mandou eu tomar bastante líquido! Nem me olhou direito! Por que não me passou um remédio mais forte? Acho que ele nem sabe o que eu tenho, então diz que é virose!". Essa é uma queixa bastante comum!

Vamos entender uma coisa: as doenças causadas por vírus são extremamente difíceis de serem tratadas com medicamentos. Como exemplo, o vírus da AIDS só consegue ser controlado através de uma combinação de diversos medicamentos, que mesmo assim não acabam com ele. O vírus da gripe também pode ser tratado com um medicamento específico para ele (Tamiflu - oseltamivir). Já os vírus que causam resfriados não têm tratamento específico, e por isso controlam-se apenas os sintomas, como febre e dores de cabeça e corpo.

É esse o caso das viroses gastrointestinais, muito comuns no verão. Também são causadas por diversos tipos de vírus, e não há tratamento específico. Por este motivo, devemos apenas controlar os sintomas (febre e dores), e o mais importante: manter a hidratação, pois perde-se muita água e sais minerais por causa da diarreia. Geralmente, a doença dura poucos dias, e não há medicamento que acelere a cura.

Da próxima vez que receber um diagnóstico de virose, não revolte-se com seu médico! Ele apenas está fazendo o que deve ser feito!

terça-feira, 25 de setembro de 2012

O que devemos saber sobre Filtro Solar, FPS, bronzeamento...






Devido à grande quantidade de dúvidas a respeito de filtros solares, escrevo este post abrangendo diversos aspectos, como:

  • Por que usar filtro solar?
  • Processos de bronzeamento da pele
  • Preciso usar filtro todos os dias?
  • Qual a diferença entre filtro solar, protetor solar e bloqueador solar?
  • Pessoas de pele negra precisam usar filtro solar?
  • Como o filtro solar filtra a radiação?
  • Por que tantas pessoas têm preconceito quanto ao uso de filtros solares?
  • O que é FPS?
  • Quais os fatores de proteção solar (FPS) são os mais indicados?
  • Mitos e verdades


Por que usar filtro solar?

Acredito que, hoje em dia, todas as pessoas que usam a internet e assistem à TV têm acesso a todo tipo de informação. Então, certamente já ouviram falar sobre a necessidade de se usar filtro solar. Mas muitas não sabem exatamente os motivos para isso. Pensam que ele deve ser apenas usado na praia, por pessoas muito brancas, para evitar queimaduras. ERRADO!!! Isto é apenas 1 bom motivo para usar, mas existem muitos outros!

O nosso queridíssimo sol emite uma enorme variedade de radiações, como: raios gama, raios-X, micro-ondas, ultravioleta A (UVA), ultravioleta B (UVB), ultravioleta C (UVC), luz visível, infravermelho... Todas elas são ondas eletromagnéticas, e são separadas pelos comprimentos de suas ondas. Como um exemplo rápido, você vê duas cores diferentes, como o vermelho e o verde, porque elas são de comprimentos de onda diferentes. É a única diferença entre elas, além da quantidade de energia carregada pela onda, que também varia, sendo maior quanto menor for o comprimento da onda.

Pois bem. Para o nosso assunto, vamos nos ater apenas ao ultravioleta. As ondas ultravioleta são separadas em A, B e C, sendo a A de maior comprimento e a C, a de menor comprimento (e mais energética). A ultravioleta C praticamente não atinge a superfície da Terra, porque é barrada pela camada de ozônio (olha aí a importância de a preservarmos!). Então, sobram a UVA e a UVB. Estas são as principais responsáveis pelos efeitos benéficos e maléficos do sol sobre o nosso corpo. Elas são emitidas o tempo todo, entretanto a UVB tem maior incidência entre 10h e 15h (por isso que ouvimos tanto que devemos evitar tomar sol neste período).

As pessoas que não são muito clarinhas, quando vão à praia, no primeiro dia já estão mais escuras.  Isso acontece porque os raios UVA são os responsáveis por escurecer o pigmento que dá cor à pele, a melanina. Este processo é chamado de pigmentação primária. Veja bem: a pessoa já tem a melanina formada, e esses raios a escurecem. O escurecimento, no entanto, dura poucos dias. Porém, têm seu lado ruim. Embora não causem queimaduras, o problema deles é que seus efeitos vão se acumulando, e depois de muitos anos, vão aparecer o envelhecimento, câncer e manchas na pele.

Preste atenção na foto deste homem que, por 28 anos, trabalhou como caminhoneiro, expondo principalmente o lado esquerdo de seu rosto ao sol.


Esta diferença entre os lados é o envelhecimento causado pelos raios UVA.


Quando as pessoas passam uma temporada na praia, e voltam bronzeadas, isso foi ação dos raios UVB. Eles promovem a fabricação de mais melanina, após a pele receber exposição diária. É chamada de pigmentação secundária, e é muito mais duradoura que a primária, podendo durar muitos meses. É ela também que permite à pele formar a vitamina D. Todavia, são os raios UVB que são responsáveis pelas queimaduras solares, e também câncer de pele. 


Queimaduras no rosto e braços causadas pelos raios UVB


A produção de melanina, que acontece após a exposição prolongada ao sol, é uma tentativa de proteção de nosso organismo contra uma agressão. Sim, agressão, pois a radiação provoca mutações no DNA das células. Tanto que a melanina fica exatamente numa posição acima do núcleo celular, de modo a filtrar a radiação antes de ela atingir o núcleo. Mas a proteção da melanina é muito limitada.

Ufa! Depois de tanto texto, afinal, por que usar filtro solar? Porque ele filtra a maior parte dos raios UVA e UVB, e evita que os efeitos maléficos apareçam.

Preciso usar filtro todos os dias?

Digamos que você mora e trabalha em São Paulo (não tem praia!). É inverno, e o tempo está nublado. Não precisa usar filtro, certo? ERRADO! Embora você não consiga enxergar o sol, ele está lá, e uma grande parte dos raios ultravioleta passa através das nuvens. E essa radiação, dia após dia, vai se somando, até que um dia aparece um câncer de pele, manchas, envelhecimento. Então devemos sim usar filtros todos os dias, se quisermos evitar estes problemas.

Qual a diferença entre filtro solar, protetor solar e bloqueador solar?

Não existe. As diferenças são meramente comerciais. Algumas pessoas classificam produtos abaixo de FPS 15 como protetores, entre 15 e 30, filtros, e acima de 30, bloqueadores. Como não existe nenhum produto que bloqueie totalmente a radiação solar, este nome é incorreto, e pode fazer com que o consumidor sinta-se totalmente protegido, o que não ocorre de fato.

Pessoas de pele negra precisam usar filtro solar?

Embora elas tenham uma proteção natural maior do que as pessoas brancas, não estão imunes aos efeitos dos raios solares. Portanto, devem também usar filtros.

Como o filtro solar filtra a radiação?

Existem 2 tipos de filtros solares: filtros físicos e filtros químicos. A maioria dos produtos de proteção solar que compramos combina estes 2 tipos. Os filtros físicos são partículas, geralmente de dióxido de titânio e óxido de zinco (veja os ingredientes do seu filtro!), que refletem e espalham as radiações solares, evitando que elas cheguem à pele. Já os filtros químicos, ao receberem a radiação, sofrem uma modificação em suas moléculas, e transformam a radiação ultravioleta em outra mais inofensiva. Alguns exemplos de filtros químicos: metoxicinamato de octila, avobenzona, benzofenona.

Por que tantas pessoas têm preconceito quanto ao uso de filtros solares?

Acho que só há uma explicação para isso: ignorância. Se as pessoas entendessem tudo o que foi explicado aqui, saberiam que não é frescura usar filtros. Tudo bem, concordo que é chato mesmo ficar passando filtro, mas é necessário...

O que é FPS?

FPS é a sigla para Fator de Proteção Solar. Este fator é calculado da seguinte forma: voluntários aplicam uma certa quantidade de filtro solar numa parte do corpo, e deixam uma parte sem nada de produto. Recebem então radiação ultravioleta. Depois de certo tempo, a parte sem produto começa a ficar vermelha. Depois de mais algum tempo, a parte com produto também começa a ficar vermelha. O FPS é a medida de quantas vezes mais tempo levou para a área com produto ficar vermelha em relação à área se produto.

Ex.: a área sem produto começou a ficar vermelha com 10 minutos de exposição. A área com produto, 150 minutos. 150 minutos são 15 vezes mais do que 10 minutos. Portanto, o FPS deste produto é 15.

O cálculo do FPS, é claro, não é feito baseado apenas em uma pessoa. É uma média entre várias pessoas.

Quais os fatores de proteção solar (FPS) são os mais indicados?

Para uso diário, usar FPS abaixo de 15 é jogar dinheiro (e tempo) fora. A proteção é tão insignificante que não vale o trabalho! Acima de 30, é interessante para pessoas com pele extremamente claras, ou com tendência a câncer de pele. Para o resto, entre 15 e 30 é suficiente (mas prefira o 30!). Isso inclui pessoas negras.

Mitos e verdades

"Vou passar mais protetor, porque o sol está muito quente!". Não é o calor do sol que queima a pele! São os raios ultravioleta, que você não sente até aparecerem as queimaduras.

"O mormaço queima.". Não é o mormaço que queima. É o sol, mesmo. Ou melhor: como sempre, são os raios ultravioleta B. Tem-se a impressão que, por não sentir o sol, não teria porque queimar, então o mormaço seria o responsável. Mas você já sabe que não!

"É importante tomar sol sem protetor". É verdade, mas por curtos períodos (uns 15 minutos), no início da manhã ou final da tarde, e até umas 3 vezes na semana. Isso ajuda na produção de vitamina D pela pele.

É tecnicamente errado dizer, quando a pessoa volta da praia mais morena: "Nossa, como você ficou queimadinha!". NÃO!!! Ela ficou bronzeada! Se ela ficou "queimadinha", então estará toda vermelha!

terça-feira, 28 de agosto de 2012

De onde vem o calor do nosso corpo?

Quando eu era criança, pensava comigo, algumas vezes, de que forma seria produzido o calor de nosso corpo. Será que haveria algum "fogo interno"? Afinal, como é gerado o calor do corpo humano?

A resposta é relativamente simples, entretanto o perfeito entendimento do assunto depende de uma explicação mais complexa, porém extremamente interessante!

Energia

A primeira coisa a saber é que o calor é uma forma de energia. E energia não é algo fácil de se descrever. Alguns físicos dizem que a ciência não pode definir energia. Associa-se energia à capacidade de produzir um trabalho ou realizar uma ação. E a energia não pode ser criada nem destruída, apenas transformada. Vamos exemplificar: uma lâmpada não funciona se não estiver ligada na rede elétrica. Ela precisa de energia (no caso, energia elétrica) para funcionar. A energia elétrica passa pela lâmpada e se transforma em luz (energia luminosa) e calor (por isso as lâmpadas ficam quentes quando estão acesas).

Assim também acontece com o corpo humano. Mas antes, mais um exemplo para facilitar o entendimento: Pense num carro comum. Ele precisa de combustível (geralmente gasolina ou álcool) para andar. As ligações químicas dos combustíveis contêm grande quantidade de energia armazenada (chamada energia química). Quando acionamos o motor, um pouco do combustível é misturado com o oxigênio do ar, comprimido, e exposto a uma faísca, que faz explodir esta mistura. A explosão é a transformação da energia química em movimento (energia cinética) e calor (por isso o motor fica quente).

No nosso corpo, o calor é gerado da mesma forma que nos carros. Nosso combustível são os alimentos, especialmente os carboidratos (energia química). Eles serão transformados em glicose, que, ao ser oxidada, permitirá a formação de uma molécula chamada ATP (trifosfato de adenosina). o ATP possui ligações químicas bastante energéticas. Para realizarmos qualquer tarefa (andar, falar, respirar, mexer, pensar), precisamos usar a energia do ATP. Quando necessitamos de energia, quebramos a molécula de ATP e usamos a energia liberada para executarmos as tarefas. Porém, assim como no motor do carro e nas lâmpadas, uma parte da energia se transforma em calor. Resumindo, o calor de nosso corpo vem da quebra das ligações de ATP, que acontecem o tempo todo! Por isso, nosso corpo esquenta mais quando estamos, por exemplo, correndo: se precisarmos de mais velocidade, será necessário usar mais energia, então quebramos mais moléculas de ATP, que por sua vez liberam mais calor! Quando temos febre, o corpo está produzindo mais calor e evitando que ele "vaze" para o ambiente...


CURIOSIDADES

  • Como já foi dito anteriormente, o calor é uma forma de energia. Mas o frio não existe! Como assim??? Quando alguma coisa está quente, significa que ela tem mais calor que outra que está mais fria. Quando alguém que está com as mãos quentes esquenta as mãos de alguém que está com elas frias, o que acontece é a perda de calor da mais quente, e ganho de calor da mais fria. Não é o "frio" que passa de mãos, e sim o calor. Portanto, minha avó estava errada quando dizia: "Cuidado, é perigoso deixar a friagem entrar nos ossos"!!! Ela deveria dizer: "Cuidado, não deixe seus ossos perderem calor para o ambiente"...
  • O calor existe a partir do chamado zero absoluto, a temperatura mais baixa possível, na qual um corpo não teria energia alguma, que é de -273,15 °C. Acima disso, por mais "gelado" que seja, já existe calor.
  • Do ponto de vista da Física, é errado falarmos : "Nossa, como está calor, hoje!". O correto seria: "Nossa, como está quente, hoje!". Calor é uma forma de energia, não um parâmetro de temperatura.
  • Quando sentimos frio, significa que estamos perdendo calor. E quando sentimos "calor", significa que nosso corpo está ganhando calor.



Obs.: Os assuntos aqui tratados foram extremamente simplificados para permitir um maior entendimento do assunto por pessoas leigas nas áreas abordadas.

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