quarta-feira, 4 de julho de 2012

Por que o Berotec acelera o coração? Isso é realmente perigoso?



Para entendermos esse efeito do Berotec (e de muitos outros medicamentos), precisamos entender um pouco sobre a adrenalina.

O que é adrenalina?

Para muitas pessoas, esta pergunta tem como resposta: "uma sensação diferente, como a que se tem quando se salta de paraquedas ou bungee-jump". O que essas pessoas provavelmente nem desconfiam, é que a adrenalina é um hormônio produzido pelo nosso organismo e de diversos animais, que nos prepara para situações de perigo (reais ou não).

Fuga ou Luta

A adrenalina é chamada de hormônio de fuga ou luta, pois prepara nosso corpo para situações de emergência.


Vamos imaginar a seguinte situação: você está passeando tranquilamente em uma savana africana quando, de repente, sente um bafo quente em seu cangote. Você vira para trás e... um leão enorme está ali, olhando pra você! O que você sente neste momento? Um medo muito grande, claro, mas o que acontece no seu corpo? O coração dispara, a pele fica pálida, a respiração ofegante... O que você pode fazer agora? Lutar com o leão, ou fugir dele (a não ser que você seja muito louco, a única opção existente é fugir)! Então: todos estes efeitos foram desencadeados pela adrenalina! E exatamente pra preparar seu corpo pra lutar ou fugir.


O coração dispara para bombear mais sangue para os músculos, que serão muito exigidos; os brônquios se dilatam, para permitir maior passagem do ar, e assim melhorar a oxigenação do organismo; as pupilas se dilatam, para permitir maior entrada de luz, e assim enxergarmos melhor; a pele fica pálida, pois os vasos sanguíneos se contraem, permitindo que mais sangue possa ir onde é mais necessário no momento (e a pele não é); a boca fica seca, já que não necessitamos de produção de saliva neste momento (afinal, quem vai comer alguma coisa fugindo de um leão?); relaxamento dos músculos lisos, como o estômago e o intestino, pois a digestão, neste caso, fica para segundo plano. Esses efeitos são desencadeados após o cérebro perceber a situação de "perigo", enviando um sinal para as glândulas supra-renais, que injetarão a adrenalina no sangue. O sangue circula por todo o corpo, mas a adrenalina fará efeito apenas em determinados órgãos. Por quê? Porque estes órgãos têm locais específicos para receber a adrenalina: são os chamados receptores. Os receptores de adrenalina dividem-se em 2 grupos principais: alfa (1 e 2) e beta (1, 2 e 3). Após ligar-se a estes receptores, a adrenalina produzirá seus efeitos.

Com isso, fica claro o funcionamento (e efeitos colaterais) do Berotec e de diversos medicamentos! Como?

Vejamos:

O Berotec (cujo princípio ativo é o bromidrato de fenoterol) tem como finalidade tratar a asma, bronquite e outros problemas respiratórios que causam o fechamento dos brônquios. Ele age promovendo uma dilatação dos brônquios contraídos. Lembram-se do que foi dito a respeito da adrenalina? Ela também dilata os brônquios, para permitir uma maior passagem de ar! O que o Berotec faz é "simular" a ação da adrenalina, ou seja, vai chegar aos receptores da adrenalina, e vai promover a dilatação dos brônquios. Porém, vimos que a adrenalina também acelera o coração. E qual o mais temido efeito colateral do Berotec? Acelerar o coração! Coincidência? Claro que não!

Outro exemplo: o Buscopan. Ele é usado para o alívio de cólicas menstruais, intestinais, dores estomacais, etc. Como ele funciona? Relaxando a musculatura lisa (útero, estômago, intestino). Efeito semelhante ao da adrenalina! Quais os possíveis efeitos colaterais? Dilatação das pupilas, boca seca...

Estes dois exemplos foram de medicamentos que "simulam" a adrenalina. Mas existem medicamentos que têm efeito exatamente oposto: bloqueiam a ação da adrenalina.

Um exemplo disso são alguns medicamentos para controle da hipertensão, arritmia cardíaca e até mesmo enxaqueca, chamados de beta-bloqueadores, como o atenolol, propranolol, etc. São chamados de beta-bloqueadores porque bloqueiam os receptores beta. Quando a adrenalina se liga aos receptores beta de vasos sanguíneos, ou do coração, provoca a contração dos vasos e aceleração do coração. Ao impedir que ela se ligue a esses receptores (bloqueio), estes efeitos não serão provocados .

Mas, e afinal, é perigoso o Berotec acelerar o coração?

Na verdade, dentro das doses recomendadas, não! O fato de o coração acelerar, por si só, não é um perigo. Isto acontece o tempo todo: quando tomamos um susto, praticamos atividades físicas, etc. Seria perigoso caso o paciente tenha algum problema cardíaco, onde qualquer tipo de esforço cardíaco seria contraindicado. Ou caso haja uma superdosagem do medicamento. Caso contrário, não há motivos para preocupações.

Algumas contraindicações do Berotec são hipertiroidismo, cardiomiopatia obstrutiva hipertrófica e taquiarritmia. Nestes casos sim, o uso deste medicamento poderia ser um risco.

Arritmia, taquicardia e palpitações estão de fato incluídas na bula como reações adversas. Assim como a cefaleia (dor de cabeça). No entanto, como já explicamos, isso não necessariamente representa um perigo (veja o exemplo da dor de cabeça).

Curiosidades:

  • A adrenalina possui um sinônimo bastante utilizado: epinefrina
  • A adrenalina recebe este nome porque, em animais quadrúpedes, é produzida pelas glândulas adrenais (ad = ao lado, portanto, ao lado dos rins). E epinefrina porque, em humanos (bípedes) esta glândula fica acima dos rins (do grego epi = acima, e nefros = rins)
  • A adrenalina possui uma "irmã" muito parecida, a noradrenalina (ou norepinefrina), que é responsável por muitos dos efeitos mencionados neste artigo. Os receptores citados possuem diferentes afinidades  por estes dois hormônios.


Obs.: os assuntos deste artigo foram tratados de maneira bastante simplificada, para facilitar a compreensão do tema por pessoas que não possuem conhecimentos na área da saúde. 

Caso haja qualquer dúvida sobre o uso ou reações deste ou de qualquer outro medicamento, informe-se com seu médico ou farmacêutico.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Mãos e pés descascando - Causas e Tratamentos

Verifiquei, pelo número de acessos ao artigo que escrevi em meu blog sobre o mito de que mãos e pés descascando poderiam ser sinal de ácido úrico elevado, que muitas pessoas procuravam informações sobre o que acontece e como tratar. Pois então, resolvi escrever este novo artigo, tratando destes assuntos!

Causas

A descamação de mãos e pés pode ser um sintoma comum a diversos processos inflamatórios da pele: alergias, dermatites (alérgicas ou não), psoríase, micoses, pele seca. Alguns medicamentos, como os quimioterápicos, podem provocar descamação como efeito adverso. E também a disidrose, em estágios avançados, pode causar descamação. E até mesmo o excesso de suor nestas regiões pode contribuir para o aparecimento de problemas que levam à descamação da pele.


Tratamentos

Claro que as coisas não poderiam ser tão fáceis assim! Como existem diversas causas para o aparecimento da descamação da pele das mãos e pés, também existem diferentes tratamentos para cada tipo. Corticoides são utilizados em alguns casos, antifúngicos em outros, hidratantes... Até mesmo o famoso Botox pode ser utilizado quando for necessário diminuir a sudorese. Mas o que é mais importante, é que somente o DERMATOLOGISTA vai identificar a causa, e prescrever o tratamento correto. O tratamento errado pode causar uma piora na situação! CUIDADO!



quarta-feira, 23 de maio de 2012

Remédios para tosse

"Que remédio é bom pra tosse?" "Tem remédio pra tosse?"

Estas perguntas são clássicas nas farmácias! O problema: a tosse pode ser causada por diferentes fatores. E é muito importante saber sua causa, e se ela é produtiva (produz secreção =catarro), ou improdutiva (tosse seca, sem catarro). O tratamento correto depende do tipo da tosse.

A tosse é um mecanismo que nós possuímos para limpar as passagens de ar em nossas vias aéreas. Poeiras, secreções, bactérias, vírus, fungos, e até comida(!!!) que vai pro lugar errado! Portanto, ela é um reflexo natural de defesa do organismo.

A tosse produtiva é causada pelo aumento da produção de muco, que por sua vez é causado por infecções respiratórias, como os resfriados em fases mais avançadas, poluição, fumo, etc. Esta tosse aparece para expulsar dos pulmões e das vias aéreas o muco (catarro) produzido em excesso. Por isso mesmo, não podemos tomar medicamentos que parem este tipo de tosse. Se pararmos com ela, o muco pode ficar retido nos pulmões, levando a uma série de complicações. Neste caso, devemos usar medicamentos que fluidifiquem as secreções, e que facilitem a expectoração. Agora ficou fácil! São os expectorantes! Alguns dos mais comuns são a N-acetilcisteína (ou apenas acetilcisteína), carbocisteína, guaifenesina, ambroxol, etc, cujos nomes comerciais são Fluimucil, Mucofan, Mucolitic, Xarope Vick, Mucosolvan, etc.

Já a tosse seca é normalmente causada por diversos motivos que, em comum, causam uma irritação nas vias aéreas. O início de resfriados, alergias, gripe, poeiras, ar extremamente seco, produtos químicos, entre outros, costumam ser os causadores da tosse seca. Muitas vezes, ela provoca uma sensação de coceira na garganta. É um tipo de tosse considerado inútil, já que não contribui para a limpeza das vias aéreas, e causa bastante incômodo, não apenas para quem a tem, mas também para quem está por perto. Nestes casos, podemos lançar mão de medicamentos que diminuem a frequência da tosse: os antitussígenos. Eles agem inibindo o reflexo da tosse, e os mais comuns são a dropropizina (Vibral), clobutinol + succinato de doxilamina (Silomat Plus, que não existe mais; Hytos Plus) e dextrometorfano. Em alguns casos, pode ser necessário o uso de codeína. Em tosses de origem alérgica, medicamentos anti-alérgicos podem ser administrados em conjunto com os antitussígenos, ou isoladamente. Um dos mais utilizados neste caso é o maleato de dexclorfeniramina (Polaramine).

Alguns medicamentos associam antitussígenos com expectorantes, porém essa associação não tem consenso entre a classe médica, já que não adiantaria fluidificar o catarro, e não tossir para expectorá-lo. Ex.: Xarope Vick 44E e Expec.


Curiosidades:

- Medicamentos para tratamento da hipertensão (pressão alta), da classe dos IECA (Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina), como o captopril e o enalapril, podem causar tosse seca como um de seus efeitos adversos.

Esterofilia é a condição de adorar o som da tosse ou espirro. Se uma pessoa parece estar gostando de tossir ou espirrar alto em público - ela pode ter uma simples alergia - ou pode ser possivelmente um esterofilíaco. Tem gosto pra tudo!!!

Para finalizar, como já disse em outros posts, NUNCA TOME MEDICAMENTOS POR CONTA PRÓPRIA! Vá ao médico ou, pelo menos, peça orientações a um farmacêutico.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Posso cortar comprimidos?



Muitas pessoas já se depararam com esta situação: "preciso tomar metade da dosagem deste comprimido. Posso cortá-lo ao meio e tomar só uma das partes?"


A resposta é: depende.

Na verdade, a resposta correta seria NÃO. Porém, sabemos que existem casos em que, clinicamente, não há diferenças significativas entre tomar um comprimido de 50mg, por exemplo, ou metade de um de 100mg. Todavia, devemos saber que, por mais preciso que seja o corte do comprimido, sempre haverá uma perda do princípio ativo. Sem contar que não obrigatoriamente haverá a mesma quantidade deste principio ativo nas duas metades. E isso acontece mesmo em medicamentos que tenham um sulco para facilitar o corte, e que você use um cortador de comprimidos. Num comprimido de 100mg, poderíamos ter uma metade com 48mg e outra com 52mg (sem considerar as perdas). Como já dissemos, para alguns tipos de medicamentos esta diferença não seria significativa. No entanto, em muitos casos, esta diferença poderia sim ser significativa.

Até agora, tudo o que dissemos é válido apenas para os medicamentos em comprimidos comuns, sem revestimento. Os comprimidos revestidos, incluindo aqueles com liberação modificada (XR, SL, SR, AP, etc), JAMAIS podem ser partidos! Isso modificaria a velocidade de absorção pelo organismo dos princípios ativos destes comprimidos, o que poderia levar a sérios efeitos colaterais.

Sempre que houver a necessidade de partir um comprimido, pergunte antes a seu médico ou farmacêutico se isso é possível no seu caso! NÃO PARTA COMPRIMIDOS SEM TER A CERTEZA DE QUE É SEGURO FAZER ISSO!

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Colesterol Bom X Colesterol Ruim

Existe realmente "colesterol bom" e "colesterol ruim"?

A resposta é: NÃO! Colesterol só existe um!

Você deve estar pensando: "Esse cara é louco! Meu médico falou que meu colesterol ruim está muito alto!". Ok, ele realmente falou isso. Mas isso é apenas uma maneira simplória para explicar algumas coisas que acontecem no nosso organismo, e que também acaba levando a algumas interpretações erradas. Explico mais adiante.

Em primeiro lugar: O que é o colesterol?

É uma substância produzida apenas pelos animais (plantas produzem uma substância quimicamente parecida com o colesterol, e que não é absorvida pelo corpo humano). Tem diversas funções importantes no corpo, como a formação da bile, a produção de certos hormônios, de vitamina D, além de ser fundamental para a estabilidade e fluidez de membranas celulares, etc.

O colesterol é, quimicamente falando, um tipo de álcool. Mas tem características de gordura. Você certamente sabe que gorduras (como os óleos) e água não se misturam. Talvez você saiba também que nosso sangue é formado, em grande parte, por água. Então, como o colesterol circula pelo sangue?

Para circular pelo sangue, o colesterol e todas as outras gorduras precisam estar ligadas a substâncias que possam se misturar à água do sangue. Essas substâncias são as lipoproteínas. Existem 5 grandes grupos de lipoproteínas: quilomícrons, VLDL, LDL, IDL e HDL. As principais, que aparecem na maioria dos exames, são a LDL (Low-Density Lipoprotein ou Lipoproteína de Baixa Densidade) e a HDL (High-Density Lipoprotein, ou Lipoproteína de Alta Densidade).

Aí é que está o problema!

Como já foi dito, colesterol só existe um. A diferença é o que transporta  o colesterol. O que é chamado de "colesterol ruim" é, na verdade, a LDL, e o "colesterol bom", a HDL. Estas lipoproteínas recebem estes nomes por transportarem o colesterol, e também porque os exames solicitados pelos médicos para o doseamento delas no sangue são HDL-colesterol, LDL-colesterol, colesterol total e colesterol-frações. O colesterol total é a soma da HDL e da LDL (podendo, em alguns casos, incluir também a VLDL), e o colesterol-frações é o valor de cada uma delas, individualmente.

Como eu disse no começo deste artigo, esta nomenclatura pode levar a interpretações erradas. Por exemplo, você tem colesterol alto, e vê no rótulo de um alimento que este não contém colesterol. Aí você pensa: "Ah, isso eu posso comer à vontade! Não tem colesterol!". Porém, este mesmo alimento é rico em gorduras saturadas. As gorduras saturadas provocam um aumento na LDL (o "colesterol ruim", lembra?). Este tipo de gordura é o pior para o nosso organismo.

Já as gorduras poliinsaturadas ajudam a baixar a LDL, e são muito melhores do que as saturadas. E as gorduras monoinsaturadas, que são as mais saudáveis, além de baixar a LDL, aumentam a HDL, o que é excelente! Este tipo de gordura é abundante no azeite de oliva, por isso ouvimos dizer sempre que este óleo é muito saudável!



quinta-feira, 1 de março de 2012

Dipirona X Novalgina

É muito comum acontecer de clientes solicitarem dipirona e, na falta dela, oferecermos o medicamento de referência, a Novalgina, como substituto. E muita gente responde: "Não! Eu não posso tomar Novalgina! Me faz muito mal! Só posso tomar dipirona...". Assim acontece também com outros medicamentos, como o Anador, Magnopyrol, etc. Todos eles têm a dipirona na fórmula! Dipirona NÃO é o nome de um medicamento, e sim da substância que faz o efeito dentro deste medicamento (princípio ativo). É engraçado ver que a maioria das pessoas nunca presta atenção no que está tomando. Percebo isto pelo espanto delas ao serem informadas de que Novalgina é dipirona! Dipirona sódica é o nome genérico, cujo medicamento de referência é a Novalgina. Isto significa que dentro das mesmas apresentações (comprimidos, gotas, etc), pode-se trocar um pelo outro com segurança.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O quê você espera encontrar numa farmácia?

O quê você espera encontrar numa farmácia?

A resposta parece óbvia, não? Mas o fato é que, quase todos os dias, muitas pessoas procuram este tipo de estabelecimento para procurar os mais diversos produtos, muito além de medicamentos, perfumaria e afins...

Posso citar alguns exemplos (presenciados por mim, ou por colegas próximos):


  • Bolinha de Ping-Pong
  • CD virgem
  • Ralinho de inox para pia
  • Carrinho de brinquedo
  • Graxa Nugget para sapatos
  • Cópia ("vocês tiram xerox???")
  • Sorvete
  • Refrigerantes
  • Agulha e linha
  • Globo terrestre
  • Caneta
  • Baralho




Parece que, quando a pessoa não sabe onde encontrar o produto, ou não consegue encontrá-lo em nenhum outro lugar, dirige-se à farmácia, porque "lá deve ter"! Para quem mora no estado de São Paulo, onde a fiscalização é mais intensa, essas coisas podem parecer absurdas. Porém, sei também que muitos destes ítens são encontrados em farmácias Brasil afora. O que não é permitido por lei.

Isso apenas nos mostra como este setor foi se desvirtuando ao longo das últimas décadas. Deixou de ser um estabelecimento de saúde, para se tornar um simples comércio, que vende de tudo. Inclusive remédios.



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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Óleo de Canola é bom pra saúde, mas... O que é Canola???

Quase todo mundo já deve ter visto no mercado, se não usado, o óleo de canola. E já deve ter ouvido que faz bem à nossa saúde. Mas alguém sabe que planta é essa tal de canola?

Bem, na verdade, canola não é uma planta. É um acrônimo (sigla pronunciada como uma palavra) em inglês para CANadian Oil, Low Acid - CANOLA, que significa "Óleo Canadense, com baixo teor de ácido". Este óleo é extraído das sementes de uma planta, uma espécie de couve, chamada colza (Brassica napus).

Mas não é qualquer óleo de colza que pode ser conhecido como Canola! Somente variedades produzidas para este fim, através de um melhoramento genético, é que podem ter seu óleo chamado de Canola. O óleo de colza normal não deve ser ingerido por causa de sua toxicidade, causada por uma elevada concentração de ácido erúcico (o termo Low Acid, ou baixo teor de ácido, refere-se a este ácido) e glucosinolatos. Porém, este óleo é utilizado para outras finalidades, como a produção de biodiesel.

E o óleo de Canola é, de fato, bom para nossa saúde. Possui baixo conteúdo de gordura saturada, e alto de gordura monoinsaturada e de ácidos graxos ômega 3 e ômega 6. Devido à essa composição, há evidências de que este óleo possa reduzir as taxas de "colesterol ruim" (LDL) e aumentar as taxas de "colesterol bom" (HDL), além de outros benefícios.


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domingo, 4 de setembro de 2011

Descontos em Farmácias

Quem nunca pediu desconto ao comprar algum produto na farmácia? Pouquíssimas pessoas, não é mesmo? Mas o que está por trás deste hábito tão comum do brasileiro?

A cena é clássica: o cliente entra na farmácia, pede um produto, pergunta o preço e, na sequência, solta um "Tem desconto???". Até aí, tudo bem. Afinal, quem não quer economizar alguns trocados ao comprar algo?

Mas a questão vai mais longe. Tem clientes que entram na farmácia e, mesmo antes de perguntarem se tem o remédio ou produto que procuram, perguntam se tem desconto. Isso é frustrante! Nós, que trabalhamos em farmácias, queremos dar um bom atendimento aos clientes, resolver suas dúvidas, auxiliá-los a adquirir os medicamentos corretos e a utilizá-los de forma correta. Mas parece que poucos realmente se importam com isso. Querem saber apenas se o desconto desta farmácia é maior que o da farmácia X.

E o pior: não pedem descontos apenas para os medicamentos. Para muitas pessoas, qualquer produto vendido na farmácia é passível de descontos! Absorventes, escovas e cremes dentais, shampoos... Enfim, qualquer coisa que possa ser encontrada na farmácia! A farmácia onde trabalho fica localizada dentro de um supermercado. Alguns tipos de produtos são vendidos tanto na farmácia quanto no mercado. Na farmácia pedem desconto. No mercado, não! Aliás, compram roupas, tênis, sapatos, bolsas, celulares e etc, ítens relativamente caros e considerados não-essenciais, e não pedem um centavo de desconto. Mas pedem em medicamentos que chegam a custar menos de 2 reais...

Então, parece que virou uma questão cultural pedir descontos na farmácia. Ao ponto de alguns clientes dizerem que é lei (!!!) dar descontos em medicamentos!

Mas como surgiu tudo isso?

Embora eu não tenha como confirmar a veracidade da informação, é um consenso que essa história começou com a Drogaria São Paulo dando descontos para os aposentados, e apenas para alguns medicamentos. Aos poucos, as concorrentes passaram a fazer o mesmo, e começaram a estender os descontos para todo mundo, em todos os medicamentos. E foi se espalhando cada vez mais, até chegar aos dias de hoje, em que raras são as pessoas que não pedem desconto. 

Isso pode ser ótimo para o consumidor, mas é terrível para os profissionais deste tipo de estabelecimento. Nós nos empenhamos em atender bem o cliente, e ainda ouvimos:

"Obrigado pelo seu atendimento! Você foi muito atencioso! Mas infelizmente vou comprar o medicamento na farmácia X, porque lá sai mais barato."

C'est la vie...

sábado, 27 de agosto de 2011

Venda de medicamentos controlados

Hoje vou falar sobre a venda de medicamentos controlados, do ponto de vista de quem está atrás do balcão da farmácia: os farmacêuticos (e seus companheiros de trabalho).

Trabalhar com medicamentos controlados não é a coisa mais agradável do mundo! Muita documentação, legislação, detalhes... Tudo deve estar certinho! Caso contrário, o farmacêutico e o gerente podem até sair algemados, nos casos mais graves! Indiciados por tráfico de drogas!!!

Mas estou escrevendo este post-desabafo, inspirado pelo que aconteceu comigo ontem. Entrou um casal de clientes na farmácia. O senhor já era bem conhecido nosso, um cliente costumeiro. A mulher que estava com ele não, era a primeira vez que eu a via. Ele até comentou: "Esta é a minha esposa"... Pois bem. Ela sacou uma receita azul (na verdade uma notificação) da bolsa. Facilmente percebe-se que se trata de algum medicamento tarja-preta. A funcionária que a atendeu buscou o medicamento, e  trouxe-me a receita para que eu pudesse conferi-la. Neste momento, notei  que a data estava rasurada...

Pausa para explicações:

As receitas de medicamentos controlados têm validade de 30 dias. Depois disso, elas não podem mais ser usadas. Também não podem conter rasura. Nem na data, nem no nome do medicamento, nem na quantidade, nem na dosagem... Em nada! Não fui eu que inventei isso! É lei:

Portaria 344/98 - CAPÍTULO V - Art. 35


§ 3º A Notificação de Receita deverá estar preenchida de forma legível, sendo a quantidade em algarismos arábicos e por extenso, sem emenda ou rasura.

§ 4º A farmácia ou drogaria somente poderá aviar ou dispensar quando todos os itens da receita e da respectiva Notificação de Receita estiverem devidamente preenchidos.



Continuando a história...

Então, fui obrigado a informá-la de que o medicamento não poderia ser vendido, porque havia uma rasura na data (2 tons de azul formando um 8 sobre o que parecia ser um 6 - uma rasura bem grosseira, diga-se de passagem! Já vi melhores...)! Pronto! Começou o escândalo:

(Legenda: Eu, o Gerente, a Senhora, o Marido. As frases todas em maiúsculas significam GRITANDO. Sim, a mulher estava um tanto alterada...)

- AONDE VOCÊ VIU RASURA AQUI?
- Minha senhora, na data! Tem 2 cores de caneta aqui...
- MAS O MÉDICO PREENCHEU NA MINHA FRENTE! EU VI!
- Tudo bem, mas mesmo que ele próprio tenha rasurado, não posso aceitar a receita.
- VOCÊ ESTÁ IMPLICANDO COMIGO!!! (Paranóia???)
- O que aconteceu?
- ELE ESTÁ FALANDO QUE A RECEITA ESTÁ RASURADA!
- Onde está a rasura?
- Aqui na data, senhor...
- Mas você não vai vender por causa disto?
- Pois é, senhor. Infelizmente não posso.
- Mas eu já compro aqui há muito tempo, você me conhece... Não dá pra dar um jeito?
- Não tem como! É a lei! O senhor quer que eu passe por cima da lei?

Pausa  #2 - Comentários

Brasileiro reclama que os políticos enganam, roubam o povo, etc. Mas quando é com eles, aí pode tudo! Pode passar por cima da lei, fazer o que for preciso para levar alguma vantagem. É o famoso (e abominável) "jeitinho brasileiro"...

Continuando...

Nisso, entra o gerente, perguntando o que estava acontecendo. Mostro a ele a receita, explico a situação. E ele corrobora minha opinião:

- É verdade, senhores. A receita está rasurada.
VOCÊS NÃO QUEREM ME VENDER O REMÉDIO!!!
- A troco de quê não venderíamos? Aqui é um comércio, precisamos vender coisas! Se não estamos vendendo, é porque tem algum motivo, concorda?
- VOCÊS IMPLICARAM COMIGO!
- Quem foi que viu a rasura?
- Fui eu, senhor.
- Tudo bem. Se vocês não vão me vender, eu nunca mais volto aqui. E vou avisar minha família pra nunca mais voltar aqui.
- É um direito seu.
- E tem mais. Meu filho trabalha na Polícia Federal. Espero que esteja tudo certo aí na sua farmácia... (uma ameaça???)

Infelizmente, este não é um caso isolado. Sempre que acontece algum tipo de problema com a receita, que inviabiliza a dispensação do medicamento, as pessoas parecem ficar anormalmente alteradas! Eu não estou recusando a venda porque eu quero, ou porque não fui com a cara do cidadão! Eu simplesmente não posso vender!

E quero aproveitar para dizer que, embora haja muita gente falsificando receitas, grande parte dos problemas é causada pelos médicos! Muitas receitas são preenchidas de maneira incorreta. Isso gera situações constrangedoras para quem vende os medicamentos, e desagradável para o paciente que precisa tomar seu remédio e não pode comprá-lo por um erro estúpido.

Médicos, por favor! Vocês sabem o que deve ser feito ao preencher as receitas! Muitas vezes, nem a data é colocada! E o paciente fica realmente indignado (e com razão) por não poder comprar o remédio apenas porque a data não foi preenchida!

Pacientes, cobrem de seus médicos o preenchimento correto de suas receitas (inclusive de forma legível), para evitar transtornos na hora da compra!

Mas não tentem dar um jeitinho na hora da compra! Se quisermos viver num país melhor, não será passando por cima das leis que alcançaremos este objetivo. Pensem nisso...





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