segunda-feira, 2 de junho de 2014

Por quê o Soro Fisiológico tem este nome?

Se você nunca usou soro fisiológico (ou solução fisiológica) na sua vida, muito provavelmente já ouviu falar nele. De utilização extremamente comum, pode ser usado para limpeza de feridas, curativos, lentes de contato, dentre outros usos.




Mas por quê ele recebe este nome?

De acordo com a definição da Wikipédia, a palavra Fisiologia "(do grego physis = natureza, função ou funcionamento; e logos = palavra ou estudo) é o ramo da biologia que estuda as múltiplas funções mecânicasfísicas e bioquímicas nos seres vivos. De uma forma mais sintética, a fisiologia estuda o funcionamento do organismo."

Fisiológico, então, é o que refere-se à fisiologia. Então o que aquele famoso soro tem a ver com a fisiologia?

Nosso corpo é formado por aproximadamente 65-75% de água. Esta água está distribuída por todo o organismo, fazendo parte do líquido presente dentro e fora das células, do sangue, da saliva, da lágrima, entre outros. Ela não é pura: existem muitas substâncias dissolvidas nela. Uma delas, das mais importantes, é o cloreto de sódio.

Sim, o cloreto de sódio é exatamente aquele "pozinho" branco que geralmente encontramos num frasco sobre quase todas as mesas de restaurantes e lanchonetes: o sal.

Nos líquidos de nosso organismo, na maioria dos tecidos, a concentração de cloreto de sódio é de 0,9%, ou seja, 0,9g a cada 100mL Portanto, essa é a concentração para o funcionamento do corpo, portanto é a concentração fisiológica.

A composição do soro fisiológico é apenas cloreto de sódio em água, em concentração de 0,9%. Ou seja, uma concentração fisiológica. Daí o nome Soro Fisiológico!

Por esse motivo o soro tem o "sabor" parecido com o da lágrima, já que ambos têm a mesma concentração de sal. E é também por isso que ele pode ser utilizado no olho, em lentes de contato, feridas, medicamentos injetáveis...

Mas fiquem tranquilos: apesar de o cloreto de sódio ser o mesmo do sal de cozinha, o que é utilizado no soro fisiológico é de pureza de grau farmacêutico. Isto significa que é muito mais puro do que o sal comum.

E por que não usamos simplesmente água pura (destilada ou deionizada) no lugar do soro?

Porque essa água tenderia a entrar nos tecidos corporais, para diluir a concentração de sal nesses locais, processo conhecido como osmose. Isso provocaria um edema (inchaço) nesses tecidos, além de outros problemas potencialmente mais graves.




sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Diclofenaco sódico deve ser evitado por hipertensos? E o potássico?

No meu post sobre as diferenças entre os tipos de diclofenaco, pude notar, nos comentários, que existe mais um mito a respeito deste medicamento: de que o diclofenaco sódico não deve ser usado por hipertensos, devendo ser utilizado o diclofenaco potássico nestes casos.

Peço desculpas aos leigos, mas para chegar à minha conclusão, preciso apresentar alguns argumentos técnicos. Porém, farei o máximo para simplificá-los.

A massa molecular do diclofenaco sódico é aproximadamente 318. A massa atômica do sódio é 23. Então, a massa somente do sódio equivale a 7,23% da massa do diclofenaco sódico.

Um comprimido de diclofenaco sódico comum contém 50 mg desta substância. 7,23% destes 50 mg são 3,6 mg. Podemos concluir que a quantidade de sódio proveniente do diclofenaco, por comprimido, é de 3,6 mg.

A posologia usual é de 1 comprimido a cada 8 horas, o que dá 3 comprimidos por dia. Temos então 10,8 mg de sódio diários provenientes do diclofenaco dos 3 comprimidos.

A quantidade de sódio recomendada por dia deve ser de no máximo 2.300 mg, de preferência ficando abaixo de 2.000 mg. Para portadores de hipertensão (pressão alta), essa quantidade deve baixar para no máximo 1.500 mg por dia. Isso nos mostra que os 10,8 mg provenientes do diclofenaco são praticamente irrelevantes com relação ao total diário.

Então um paciente hipertenso pode tomar tranquilamente o diclofenaco sódico??? NÃO!!!

E por que não?

Porque a maioria dos anti-inflamatórios não-esteroidais (AINEs), incluídos aí os diclofenacos sódico e potássico, podem elevar a pressão arterial. Esta elevação pode ser ainda maior em pacientes hipertensos.

Conclusão: pacientes hipertensos não devem usar diclofenaco sódico nem potássico sem orientação médica, pois ambos podem provocar um aumento da pressão arterial, não pelo conteúdo de sódio, mas pela própria ação (farmacodinâmica) do diclofenaco.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Qual a diferença entre Diarreia e Disenteria (ou seria Desinteria)?

Essa é uma dúvida bastante frequente, mas não tão difícil de ser respondida.

A Diarreia é o aumento do número de evacuações, normalmente (mas não sempre) acompanhadas por fezes amolecidas (pastosas ou líquidas).

Pode ser causada por diversos fatores, como infecções por vírus, bactérias ou parasitas; medicamentos, alergias, ou ainda doenças inflamatórias intestinais.

O principal problema causado pela diarreia é a desidratação, que pode levar à morte principalmente crianças e idosos.

Já a Disenteria é uma doença inflamatória intestinal que provoca diarreia, mas sempre acompanhada por muco e sangue.

É também causada por infecções virais, bacterianas, protozoárias ou parasíticas.

Pessoas com disenteria em geral apresentam febre, tosse, cólicas intestinais e diminuição do apetite, podendo levar rapidamente à perda de peso e até à desnutrição.

E qual o correto? Disenteria ou Desinteria?

Por se tratar de uma doença (disfunção) do intestino (entérica), ou seja, disfunção entérica, o correto é Disenteria.

Então, resumindo:

Se você tiver uma diarreia, mas estiver saindo sangue e muco, é na verdade uma disenteria.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Por que os médicos sempre dizem que é uma Virose?

É muito comum a reclamação, por parte dos pacientes, quando estes procuram o médico e recebem como diagnóstico: "Isto é uma virose!". Por que os médicos sempre respondem isto?

Tecnicamente falando, virose é qualquer doença causada por vírus. Podemos então dizer que gripe, resfriado e até mesmo a AIDS são viroses.

Mas as reclamações surgem quando o diagnóstico é recebido diante de um quadro que apresenta, geralmente: diarreia, vômitos, indisposição, dores no corpo, e até mesmo febre. O médico diz que é preciso ingerir bastante líquidos, e prescreve um simples analgésico para as dores e a febre. "Ele disse que eu tenho uma virose, só passou um remedinho pra dor e mandou eu tomar bastante líquido! Nem me olhou direito! Por que não me passou um remédio mais forte? Acho que ele nem sabe o que eu tenho, então diz que é virose!". Essa é uma queixa bastante comum!

Vamos entender uma coisa: as doenças causadas por vírus são extremamente difíceis de serem tratadas com medicamentos. Como exemplo, o vírus da AIDS só consegue ser controlado através de uma combinação de diversos medicamentos, que mesmo assim não acabam com ele. O vírus da gripe também pode ser tratado com um medicamento específico para ele (Tamiflu - oseltamivir). Já os vírus que causam resfriados não têm tratamento específico, e por isso controlam-se apenas os sintomas, como febre e dores de cabeça e corpo.

É esse o caso das viroses gastrointestinais, muito comuns no verão. Também são causadas por diversos tipos de vírus, e não há tratamento específico. Por este motivo, devemos apenas controlar os sintomas (febre e dores), e o mais importante: manter a hidratação, pois perde-se muita água e sais minerais por causa da diarreia. Geralmente, a doença dura poucos dias, e não há medicamento que acelere a cura.

Da próxima vez que receber um diagnóstico de virose, não revolte-se com seu médico! Ele apenas está fazendo o que deve ser feito!

terça-feira, 25 de setembro de 2012

O que devemos saber sobre Filtro Solar, FPS, bronzeamento...






Devido à grande quantidade de dúvidas a respeito de filtros solares, escrevo este post abrangendo diversos aspectos, como:

  • Por que usar filtro solar?
  • Processos de bronzeamento da pele
  • Preciso usar filtro todos os dias?
  • Qual a diferença entre filtro solar, protetor solar e bloqueador solar?
  • Pessoas de pele negra precisam usar filtro solar?
  • Como o filtro solar filtra a radiação?
  • Por que tantas pessoas têm preconceito quanto ao uso de filtros solares?
  • O que é FPS?
  • Quais os fatores de proteção solar (FPS) são os mais indicados?
  • Mitos e verdades


Por que usar filtro solar?

Acredito que, hoje em dia, todas as pessoas que usam a internet e assistem à TV têm acesso a todo tipo de informação. Então, certamente já ouviram falar sobre a necessidade de se usar filtro solar. Mas muitas não sabem exatamente os motivos para isso. Pensam que ele deve ser apenas usado na praia, por pessoas muito brancas, para evitar queimaduras. ERRADO!!! Isto é apenas 1 bom motivo para usar, mas existem muitos outros!

O nosso queridíssimo sol emite uma enorme variedade de radiações, como: raios gama, raios-X, micro-ondas, ultravioleta A (UVA), ultravioleta B (UVB), ultravioleta C (UVC), luz visível, infravermelho... Todas elas são ondas eletromagnéticas, e são separadas pelos comprimentos de suas ondas. Como um exemplo rápido, você vê duas cores diferentes, como o vermelho e o verde, porque elas são de comprimentos de onda diferentes. É a única diferença entre elas, além da quantidade de energia carregada pela onda, que também varia, sendo maior quanto menor for o comprimento da onda.

Pois bem. Para o nosso assunto, vamos nos ater apenas ao ultravioleta. As ondas ultravioleta são separadas em A, B e C, sendo a A de maior comprimento e a C, a de menor comprimento (e mais energética). A ultravioleta C praticamente não atinge a superfície da Terra, porque é barrada pela camada de ozônio (olha aí a importância de a preservarmos!). Então, sobram a UVA e a UVB. Estas são as principais responsáveis pelos efeitos benéficos e maléficos do sol sobre o nosso corpo. Elas são emitidas o tempo todo, entretanto a UVB tem maior incidência entre 10h e 15h (por isso que ouvimos tanto que devemos evitar tomar sol neste período).

As pessoas que não são muito clarinhas, quando vão à praia, no primeiro dia já estão mais escuras.  Isso acontece porque os raios UVA são os responsáveis por escurecer o pigmento que dá cor à pele, a melanina. Este processo é chamado de pigmentação primária. Veja bem: a pessoa já tem a melanina formada, e esses raios a escurecem. O escurecimento, no entanto, dura poucos dias. Porém, têm seu lado ruim. Embora não causem queimaduras, o problema deles é que seus efeitos vão se acumulando, e depois de muitos anos, vão aparecer o envelhecimento, câncer e manchas na pele.

Preste atenção na foto deste homem que, por 28 anos, trabalhou como caminhoneiro, expondo principalmente o lado esquerdo de seu rosto ao sol.


Esta diferença entre os lados é o envelhecimento causado pelos raios UVA.


Quando as pessoas passam uma temporada na praia, e voltam bronzeadas, isso foi ação dos raios UVB. Eles promovem a fabricação de mais melanina, após a pele receber exposição diária. É chamada de pigmentação secundária, e é muito mais duradoura que a primária, podendo durar muitos meses. É ela também que permite à pele formar a vitamina D. Todavia, são os raios UVB que são responsáveis pelas queimaduras solares, e também câncer de pele. 


Queimaduras no rosto e braços causadas pelos raios UVB


A produção de melanina, que acontece após a exposição prolongada ao sol, é uma tentativa de proteção de nosso organismo contra uma agressão. Sim, agressão, pois a radiação provoca mutações no DNA das células. Tanto que a melanina fica exatamente numa posição acima do núcleo celular, de modo a filtrar a radiação antes de ela atingir o núcleo. Mas a proteção da melanina é muito limitada.

Ufa! Depois de tanto texto, afinal, por que usar filtro solar? Porque ele filtra a maior parte dos raios UVA e UVB, e evita que os efeitos maléficos apareçam.

Preciso usar filtro todos os dias?

Digamos que você mora e trabalha em São Paulo (não tem praia!). É inverno, e o tempo está nublado. Não precisa usar filtro, certo? ERRADO! Embora você não consiga enxergar o sol, ele está lá, e uma grande parte dos raios ultravioleta passa através das nuvens. E essa radiação, dia após dia, vai se somando, até que um dia aparece um câncer de pele, manchas, envelhecimento. Então devemos sim usar filtros todos os dias, se quisermos evitar estes problemas.

Qual a diferença entre filtro solar, protetor solar e bloqueador solar?

Não existe. As diferenças são meramente comerciais. Algumas pessoas classificam produtos abaixo de FPS 15 como protetores, entre 15 e 30, filtros, e acima de 30, bloqueadores. Como não existe nenhum produto que bloqueie totalmente a radiação solar, este nome é incorreto, e pode fazer com que o consumidor sinta-se totalmente protegido, o que não ocorre de fato.

Pessoas de pele negra precisam usar filtro solar?

Embora elas tenham uma proteção natural maior do que as pessoas brancas, não estão imunes aos efeitos dos raios solares. Portanto, devem também usar filtros.

Como o filtro solar filtra a radiação?

Existem 2 tipos de filtros solares: filtros físicos e filtros químicos. A maioria dos produtos de proteção solar que compramos combina estes 2 tipos. Os filtros físicos são partículas, geralmente de dióxido de titânio e óxido de zinco (veja os ingredientes do seu filtro!), que refletem e espalham as radiações solares, evitando que elas cheguem à pele. Já os filtros químicos, ao receberem a radiação, sofrem uma modificação em suas moléculas, e transformam a radiação ultravioleta em outra mais inofensiva. Alguns exemplos de filtros químicos: metoxicinamato de octila, avobenzona, benzofenona.

Por que tantas pessoas têm preconceito quanto ao uso de filtros solares?

Acho que só há uma explicação para isso: ignorância. Se as pessoas entendessem tudo o que foi explicado aqui, saberiam que não é frescura usar filtros. Tudo bem, concordo que é chato mesmo ficar passando filtro, mas é necessário...

O que é FPS?

FPS é a sigla para Fator de Proteção Solar. Este fator é calculado da seguinte forma: voluntários aplicam uma certa quantidade de filtro solar numa parte do corpo, e deixam uma parte sem nada de produto. Recebem então radiação ultravioleta. Depois de certo tempo, a parte sem produto começa a ficar vermelha. Depois de mais algum tempo, a parte com produto também começa a ficar vermelha. O FPS é a medida de quantas vezes mais tempo levou para a área com produto ficar vermelha em relação à área se produto.

Ex.: a área sem produto começou a ficar vermelha com 10 minutos de exposição. A área com produto, 150 minutos. 150 minutos são 15 vezes mais do que 10 minutos. Portanto, o FPS deste produto é 15.

O cálculo do FPS, é claro, não é feito baseado apenas em uma pessoa. É uma média entre várias pessoas.

Quais os fatores de proteção solar (FPS) são os mais indicados?

Para uso diário, usar FPS abaixo de 15 é jogar dinheiro (e tempo) fora. A proteção é tão insignificante que não vale o trabalho! Acima de 30, é interessante para pessoas com pele extremamente claras, ou com tendência a câncer de pele. Para o resto, entre 15 e 30 é suficiente (mas prefira o 30!). Isso inclui pessoas negras.

Mitos e verdades

"Vou passar mais protetor, porque o sol está muito quente!". Não é o calor do sol que queima a pele! São os raios ultravioleta, que você não sente até aparecerem as queimaduras.

"O mormaço queima.". Não é o mormaço que queima. É o sol, mesmo. Ou melhor: como sempre, são os raios ultravioleta B. Tem-se a impressão que, por não sentir o sol, não teria porque queimar, então o mormaço seria o responsável. Mas você já sabe que não!

"É importante tomar sol sem protetor". É verdade, mas por curtos períodos (uns 15 minutos), no início da manhã ou final da tarde, e até umas 3 vezes na semana. Isso ajuda na produção de vitamina D pela pele.

É tecnicamente errado dizer, quando a pessoa volta da praia mais morena: "Nossa, como você ficou queimadinha!". NÃO!!! Ela ficou bronzeada! Se ela ficou "queimadinha", então estará toda vermelha!

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